Brasil: econômico, social e religioso. Texto de João Vicente Pereira
Situação social. Até 1888 o Brasil tinha um regime escravocrata. O Brasil
em sua fase embrionária, era um terreiro
de Portugal (usando a analise historiográfica de Caio Prado Junior, e, portanto
a clássica) . Aqui Portugal começou a plantar cana de açúcar devido a enorme
procura dos países europeus. O
Brasil se contrapõe aos Estados Unidos
da América, pois lá o objetivo dos colonos era fundar uma nação, um país. Mas,
no Brasil, era diferente. O Brasil era a vaca de leite de Portugal, daqui saia
toda matéria prima, para passar pelo processo de industrialização na Europa. Os
índios não se submeteram ao trabalho forçado, pois culturalmente os índios
nunca trabalharam por imposição, pelo contrário, caçavam e pescavam visando a
coletividade. Não tinham noção da mais valia, isto é, lucro. Destarte,
importaram africanos pra cá, para servir de mão de obra nos plantatios de cana
de açúcar. E isso perdurou por mais de três séculos, até que, em 1888, a
princesa Isabel ( é bom que se diga que à abolição da escravatura no Brasil não
se deveu a um gesto longânimo de nossa Rainha, mas, deveu-se principalmente
pelas pressões e insurreições que estavam ocorrendo dentro do país) aboliu a
escravidão dos negros.
No século
XIX Dom João VI vem ao Brasil. Subsequentemente , muitas coisas mudaram na
colônia. A Inglaterra, rainha dos mares, força o governo brasileiro visando
a abolição do tráfico de escravos. Em
1850 é proibido o tráfico de escravos. Em 1871, a lei do ventre livre declara
livres os filhos de mães escravas no Brasil. Mas, só foi em 1888 oficialmente
que o regime escravocrata é proibido.
Diante
deste fato, não tendo mais agora os fazendeiros mão de obra pra cuidar de suas
plantações, recorrem aos imigrantes europeus ou asiáticos, que por sinal já
estavam aculturados (obrigatoriamente) ao novo sistema mundial capitalista, que
exigia não somente braços fortes, mas também capacidade técnica para o
trabalho. Além do fato da abolição da escravidão, os escravos foram abandonados
em detrimento dos europeus, pois eram inaptos de se engajarem no novo modelo
internacional de produção. Paralelamente a substituição da mão-de-obra escrava
por mão de obra assalariada ou arrendamento (no sudeste a mão de obra foi
assalariada, já no sul do país arrendada),
se inicia um processo de industrialização. Isto decorre por causa da
crise por que passam os produtos ancoras da economia exportadora brasileira: o
café, e, particularmente na Amazônia, a borracha.
No século
XIX, período em que há uma expansão do capitalismo a nível mundial e
crescimento da industrialização nas novas potências mundiais, traz como
novidade para a região Amazônica a demanda por mais um produto extrativo: a
borracha. O aquecimento da economia na região promove também uma expansão
demográfica na região durante o período. Esse aumento da população ocorre
também por fatores externos à região, por exemplo, a seca no nordeste de 1877 a
1880. “Em 1882, a produção de gomas amazônicos já influencia poderosamente no
quadro brasileiro da exportação do império. Apenas o café e o açúcar se lhe
mantinham á frente. O esplendor do ciclo da borracha estava começando” .
“Entre 1906
e 1910, o valor da produção de café no Brasil (...) foi de 2,1 bilhões de cruzeiros.
A borracha (...) rendeu nesse qüinqüênio 1,3 bilhões de cruzeiros. Entre 1853 e
1912, a união retirou da Amazônia saldo de 749 bilhões de cruzeiros (em moeda
da época)”.
PRODUÇÃO DE BORRACHA NA REGIÃO AMAZÔNICA
PERÍODO
|
PRODUÇÃO
EM TONELADAS
|
1827
|
31
|
1850
|
1.000
|
1870
|
8.000
|
1891
A 1900
|
21.400
|
1900
A 1910
|
34.500
|
1910
A 1920
|
32.800
|
1920
A 1930
|
20.200
|
Com a
entrada da Ásia na concorrência do mercado da borracha, pois em 1910 a Ásia
detinha 13% da economia mundial, mas em 1915 chega a 68%. Diante desse quadro
econômico que começava a rastejar a região amazônica, sente, pois entre 1890 a
1900 houve uma migração liquida de mais 110 mil pessoas vindas principalmente
do Ceará, a partir de então há um retraimento de extração de borracha.
Portanto, de agora em diante, ocorre todo um processo migratório em direção aos
seus Estados. E, é nesse momento que os missionários suecos chegam ao Pará.
2.2
A SITUAÇÃO SOCIAL NO BRASIL e no Pará..
Em 1888 o
fim da escravidão não representou para o povo trabalhador na extração da
borracha libertação. À semelhança dos africanos, esses trabalhadores foram
objetos de exploração. A riqueza que chegou à Amazônia não chegou até os
seringueiros, responsáveis diretos por sua produção. Esse período pra Manaus
foi assazmente próspero, pois, as grandes construções como o Teatro Municipal e
outras construções importantes, procederam por causa da exuberância material da
extração da borracha. Outrossim, a situação no nordeste era de crise profunda
por conta das secas de 1877 a 1880. O maior fluxo de migrantes em direção às
áreas de borracha do Amazonas veio ocorrer nas décadas seguintes, especialmente
durante os períodos de 1890-1900.
O sistema
de aviamento consistia em um adiantamento oferecido pelos intermediários para
que o migrante pudesse ter condições de produzir, sendo o pagamento efetuado
com a produção da borracha. Mas, os preços dos produtos tanto os adiantados
como o da borracha eram fixados pelos intermediários, o que resultava num
endividamento cada vez maior do seringueiro. A crise da borracha provoca
falências nas empresas aviadoras e nos governos locais, além de grandes
prejuízos aos bancos. Entretanto, a população vai sofrer na pele as
conseqüências desse período crítico.
Em tempos
de tamanha crise o apelo religioso se mostra como uma solução para os problemas
enfrentados no dia-a-dia. A doença, a fome, a exploração trazem a perspectiva
da morte para próximo dos indivíduos, e uma doutrina que traz resposta para a
vida com grande ênfase para a vida eterna, terá enorme sucesso. A experiência
do batismo com o Espírito Santo, momento de êxtase, algo indizível,
inexplicável racionalmente falando, levam os homens, apesar da falta de
esperança e apesar da fome, miséria, doença, a um estado de interioridade
inefável, que sobrepõe a tudo.
2.3 A SITUAÇÃO RELIGIOSA.
A relação Igreja-Estado, desde o
descobrimento do Brasil esta assentada no regime do Padroado. A Instituição do
Padroado é uma concessão oferecida pelos papas aos soberanos portugueses que
oferecia a estes o direito de administração dos negócios eclesiásticos nas
terras descobertas.
Essa
simbiose (união) de Igreja-Estado se
encontra desde o momento em que o Imperador Romano Constantino oficializou o
cristianismo como a religião do Império. Quando o Império Romano caiu no século
V, faltou autoridade pra se impor aos bárbaros e foi nessa brecha que os Bispos
começaram a se ascender como líderes espirituais e políticos. Doravantemente
esses dois poderes – temporal e o espiritual -, lutam constantemente visando o
poder absoluto.
A época era
para o comércio e portanto a Igreja estava subordinada ao Estado que tinha
intenções mercantilistas pra novas terras invadidas pelos europeus . Savanarola
expressou-se certa vez, que no começo os homens eram de ouro e os copos de
madeira, mas, em sua época (XV) os homens eram de madeira e os copos de ouro.
Destarte, as virtudes já não surtiam efeitos nas mentes dos homens, portanto, o
que importava era o lucro. A aliança entre a Igreja e o Estado resultou em uma associação poderosíssima,
capaz de uma empresa de imposição cultural e política que foi a conquista da
América. A igreja defendeu o direito divino dos reis, enquanto a coroa
respaldou a autoridade universal da Igreja Católica. Na prática o Rei,
agraciado com o poder do padroado, se constituía no chefe espiritual da Igreja
em todas as possessões do reino, o que lhe garantia ingerências total dentro dos negócios
eclesiásticos das colônias.
A Igreja,
portanto, ficava a mercê do Estado. Por exemplo: nenhum clérigo podia partir de
Portugal para o Brasil sem autorização e sem prestar juramento ao rei. Os
bispos não podiam corresponder-se diretamente com Roma. Havia problemas para a
admissão de noviços nos conventos, além
de ser proibido a criação de novos conventos. O número e a localização dos
missionários era decidido de acordo com a necessidade de expansão colonial e
não necessidade missionária.
Durante
esse tempo a reforma do século XVI de Lutero e Calvino ainda não fizera efeito
no Brasil, não obstante às varias tentativas -
principalmente dos huguenotes franceses calvinistas no século XVI, que
na verdade foram derrotados por causa de
controvérsias teológicas e autoritarismo
dentro do próprio grupo -. Os reformadores com a doutrina da
predestinação deram incentivos ao capitalismo, levando essa teologia, fique
claro nunca ensinada por João Calvino na ótica econômica, mas sim espiritual, a
vertebralização do liberalismo. E essas novas idéias liberais já povoavam a
cabeça da elite brasileira. De tal modo que na “ constituição de 1824, embora
dos 90 constituintes, 19 fossem padres e a religião católica reconhecida como a
religião oficial do Estado (...) Reconhecia a Constituição do Brasil como nação
cristã em todas as profissões cristãs. Estabelecia, também que, respeitada a
religião oficial, ninguém seria perseguido por questão de religião” .
“Nesse período já
está instalado um clima de tensão acentuado. Duas correntes vão aprofundar
essas diferenças passo a passo. De um lado os regalistas que defendem o poder
absoluto do Rei, e, do outro, os utramontanos que defendem a autoridade suprema
do papa. Tem inicio um processo de volta a Roma por parte da Igreja, os bispos
se reúnem e se afirmam estreitamente ligados ao papa. Esse processo de volta a
Roma – romanização – tem um desenvolvimento cada vez mais radical chegando ao
clímax no Concilio Vaticano I (1969-1870) onde foi decretada a infabilidade
papal”.
A partir da
Independência do Brasil e com a proliferação de idéias liberais, e o avanço da
maçonaria, das quais o próprio Imperador D. Pedro I era simpatizante, a Igreja
vai perdendo, pouco a pouco, seus privilégios, e vai ganhando corpo uma idéia
de cisão.