OS RESULTADOS
HUMANOS DA REVOLUÇÃO INDUSTRIAL
O debate a
respeito dos resultados humanos da Revolução Industrial ainda não se libertou
inteiramente dessa atitude. Nossa tendência ainda é perguntar: ela deixou as
pessoas em melhor ou em situação? E até que ponto? Para sermos mais precisos,
interrogamo-nos qual foi o volume de poder aquisitivo, ou bens, serviços e
assim por diante, que o dinheiro pode comprar, que ela proporcionou, a que
quantidade de indivíduos, supondo-se que uma dona-de-casa possuidora de uma
máquina de lavar roupa esteja em melhor situação do que outra, destituída desse
eletrodoméstico (o que é razoável), mas também supondo (a) que a felicidade
individual consiste numa acumulação de coisas tais como bens de consumo e (b)
que a felicidade social consiste na maior acumulação possível de tais coisas
pelo maior número possível de indivíduos (o que não é verdade). Tais questões
são importantes, mas também conduzem a equívocos. Saber se a Revolução
Industrial deu à maioria dos britânicos mais ou melhor alimentação, vestuário e
habitação, em termos absolutos ou relativos, interessa, naturalmente, a todo
historiador. Entretanto, ele terá deixado de apreender o que a Revolução
Industrial teve de essencial, se esquecer que ela não representou um simples
processo de adição e subtração, mas sim uma
mudança social fundamental. Ela transformou a vida dos homens a
ponto de torná-las irreconhecíveis. Ou, para sermos mais exatos, em suas fases
iniciais ela destruiu seus antigos estilos de vida, deixando-os livres para
descobrir ou criar outros novos, se soubessem ou pudessem. Contudo, raramente
ela lhes indicou como fazê-lo.
Existe, na verdade, uma relação entre a
Revolução Industrial como provedora de conforto e como transformadora social.
As classes cujas vidas sofreram menor transformação foram também, normalmente,
aquelas que se beneficiaram de maneira mais óbvia em termos materiais (e
vice-versa). Ninguém é mais complacente que um homem rico ou coroado de êxito e
que também se sente à vontade num mundo que parece ter sido construído com
vista a pessoas exatamente como ele.
Assim, salvo para melhor, a aristocracia
e os proprietários da terra britânicos foram pouquíssimo afetados pela
industrialização. Suas rendas inflaram com a procura de produtos agrícolas, com
a expansão das cidades (em solos de sua propriedade) e com o desenvolvimento de
minas, forjas e estradas de ferro (situadas em suas propriedades ou que
passavam por elas). E mesmo quando os tempos eram ruins para a agricultura —
como aconteceu entre 1815 e a década de 1830 — era improvável que empobrecessem.
Sua predominância social permaneceu intacta, seu poder político continuou
inalterado no campo, e mesmo no conjunto do país não se abalou muito, ainda que
a partir da década de 1830 fossem obrigados a levar em conta as
suscetibilidades de uma poderosa e militante classe média de empresários
provincianos. E bem possível que, a partir de então, nuvens começassem a toldar
o céu azul da vida aristocrática, mas ainda assim, pareciam maiores e mais
carregadas do que realmente eram porque os primeiros cinquenta anos da
industrialização haviam sido anos fantasticamente áureos para os proprietários
de terras e títulos nobiliárquicos.
Igualmente plácida e próspera era a vida
dos numerosos parasitas da sociedade aristocrática rural, tanto a alta como a
baixa — aquele mundo de funcionários e fornecedores da nobreza e dos
proprietários de terras, e as profissões tradicionais, entorpecidas, corruptas
e, à medida que se processava a Revolução Industrial, cada vez mais
reacionárias. A Igreja e as universidades inglesas pachoreavam, acomodadas em
suas rendas, privilégios e abusos, protegidas por suas relações com a nobreza,
enquanto viam sua corrupção ser atacada com maior dureza na teoria do que na
prática. Os advogados, e aquilo que passava por ser um funcionalismo público,
eram incorrigíveis. (...)
Numa sociedade industrial, a mão-de-obra
é em muitos aspectos diferente da que existe na sociedade pré-industrial. Em
primeiro lugar, é formada em maioria absoluta por ''proletários", que não
possuem qualquer fonte de renda digna de menção além do salário em dinheiro que
recebem por seu trabalho. (...)
Em segundo lugar, o trabalho industrial
— e principalmente o trabalho numa fábrica mecanizada - impõe uma regularidade,
uma rotina e uma monotonia totalmente diferente dos ritmos pré-industriais de
trabalho, — que dependem da variação das estações e do tempo, da multiplicidade
de tarefas em ocupações não afetadas pela divisão racional do trabalho, pelos
caprichos de outros seres humanos ou de animais, e até mesmo pelo desejo de se
divertir em vez de trabalhar. (...)
Em terceiro lugar, na era industrial o
trabalho passou a ser realizado cada vez mais no ambiente sem precedentes da
grande cidade; e isso a despeito do fato de a mais antiquada das revoluções
industriais efetuar grande parte de suas atividades em vilas industrializadas de
mineiros, tecelões, fabricantes de pregos e correntes e outros trabalhadores
especializados.
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