quarta-feira, 31 de outubro de 2012


1534

O Ato de Supremacia de Henrique VIII

 Ao contrário da reforma alemã, a reforma inglesa não se originou da busca espiritual de um homem que queria conhecer a Deus mais profundamente. Surgiu de uma combinação de desejo pessoal, conveniência política e clima espiritual de uma nação.

A disposição da Inglaterra era de se afastar da Igreja Católica. John Colet, pároco da Igreja de São Paulo, insistia na reforma do clero e no retorno ao estudo da Bíblia. Um grupo de estudiosos de Cambridge, que seguia os ensinamentos de Lutero, ficou conhecido por "Pequena Alemanha". O clero, surpreso, não foi capaz de deter a expansão da Reforma.

Contudo, o rei da Inglaterra, Henrique VIII, tinha pouco interesse em mudanças no campo espiritual. Em 1521, atacou a idéia de Lutero com relação aos sacramentos e recebeu do papa o título de "Defensor da Fé". Seu interesse em questões espirituais era mínimo.

Depois da morte de seu irmão, Henrique se casou com sua cunhada, Catarina de Aragão. Eles não tiveram filhos, o que impedia que Henrique de ter um sucessor ao trono. Atraído por Ana Bolena, o rei procurou se livrar da esposa estéril, para conseguir outra que pudesse lhe dar herdeiros. Com a justificativa de que não poderia ter se casado com a viúva de seu irmão mais velho, citando Levítico 20.21 como fundamento bíblico para sua posição, pediu ao papa que lhe concedesse o divórcio.

O papa temia enfurecer o imperador do Sacro Império Romano, Carlos V, sobrinho de Catarina, e terminou por impedir que o rei inglês alcançasse seu intento.

Henrique, impaciente, decidiu nomear Tomás Cranmer para a posição de arcebispo de Cantuária, e o novo arcebispo concedeu o divórcio ao rei. Henrique, rapidamente, casou-se com Ana, e, no mesmo ano — 1533 — ela deu à luz uma criança, Elisabete.

Em 1534, o Parlamento inglês promulgou o Ato de Supremacia, declarando que o rei era "o chefe supremo da Igreja da Inglaterra". Isso não significava que o rei pretendia implementar mudanças teológicas radicais na igreja. Ele simplesmente queria uma igreja estatal sobre a qual o papa não tivesse autoridade. A lei que trouxe uniformidade à nova igreja, o Estatuto dos seis artigos, mantinha o celibato do clero, a confissão de pecados aos sacerdotes e as missas particulares.

Contudo, é preciso destacar que Henrique acabou com os mosteiros, que se tornaram símbolo do hedonismo e da imoralidade. O rei não levou em conta a preocupação de muitos cristãos dedicados com relação a esse assunto. Em vez disso, tomou as terras da igreja. Depois de fechar os mosteiros, confiscou as propriedades e colocou o dinheiro no tesouro real. As terras foram passadas aos nobres em troca de lealdade ao rei.

Com o intuito de promover o nacionalismo inglês, Henrique ordenou que a Bíblia em inglês fosse colocada em todas as igrejas.

Embora Henrique não tenha feito isso por razões de escrúpulo, ele criou uma igreja que não era mais a Igreja Católica Romana. Nos anos que se seguiram, a filha mais velha de Henrique, Maria, tentaria levar a Inglaterra de volta ao catolicismo, mas isso não durou muito tempo. Uma vez separada do papa, a Igreja da Inglaterra não mais se juntou a ele. As sucessivas ondas de Reforma na Inglaterra foram rápidas e tumultuadas. Como veremos nos capítulos a seguir, essas ondas promoveram uma riqueza e uma diversidade de expressão cristã, que, certamente, teriam deixado Henrique perplexo.



1517

Martinho Lutero afixa As noventa e cinco teses

"Tão logo a moeda no cofre ressoa, a alma sai do purgatório." Essa era a curta mensagem musicada de propaganda de João Tetzel, o homem autorizado a conseguir dinheiro para construir uma nova basílica em Roma. Seu esquema para o levantamento de fundos — a venda de indulgências — era, simplesmente, a venda do perdão. "Faça com que os seus entes queridos, que já partiram, saiam do purgatório por uma pequena taxa e ganhe algum crédito adicional para os seus pecados."
A corrupção reinava na igreja. Os cargos eclesiásticos eram comprados por nobres ricos e usados para alcançar mais riqueza e mais poder. Um desses nobres foi Alberto de Brandemburgo, que pedira dinheiro emprestado para se tornar arcebispo de Mainz e que precisava encontrar um modo de pagar seu empréstimo. O papa autorizou a venda de indulgencias na região de Alberto, contanto que metade do dinheiro coletado fosse usada para a construção da Basílica de São Pedro em Roma. O restante do valor levantado iria para Alberto. Todos estavam felizes, a não ser certo número de alemães devotos, dentre os quais estava Martinho Lutero.

Tetzel, monge dominicano e pregador bastante popular, tornou-se o comissário das indulgências. Ele viajava de cidade em cidade, proclamando seus benefícios: "Ouça a voz de seus entes queridos e amigos que já morreram, suplicando-lhes e dizendo: 'Tenha pena de nós, tenha pena de nós. Estamos passando por tormentos horríveis dos quais você pode nos redimir, contribuindo com uma pequena esmola'. Vocês não desejam fazer isso?".

Lutero, sacerdote e professor de Wittenberg, opunha-se totalmente à venda das indulgências. Quando Tetzel chegou àquela localidade, Lutero redigiu uma lista de 95 queixas e a afixou na porta da igreja, que também servia como quadro de avisos da comunidade. O perdão divino certamente não poderia ser comprado e vendido, dizia Lutero, uma vez que Deus o oferece gratuitamente.

indulgências, porém, eram apenas a ponta do iceberg. Lutero se rebelava contra toda a corrupção da igreja e pressionava para que uma nova compreensão da autoridade do papa e das Escrituras fosse adotada. Tetzel saiu logo de cena (morreu em 1519), mas Lutero prosseguiu, vindo a liderar uma revolução religiosa que mudou radicalmente o mundo ocidental.

Lutero nasceu em 1483, em uma família de camponeses em Eisleben, Alemanha. Seu pai, um mineiro, levou-o a estudar Direito, enviando-o à Universidade de Erfurt. Contudo, o fato de ele ter sido poupado da morte quando um raio caiu muito próximo dele fez com que Lutero mudasse de idéia. Ele entrou para um mosteiro agostiniano em 1505, tornando-se sacerdote em 1507. Reconhecendo suas habilidades acadêmicas, seus superiores o enviaram para a Universidade de Wittenberg a fim de que obtivesse o diploma em Teologia.

A inquietação espiritual que atormentava outros grandes cristãos, ao longo de todas as eras, também influenciou Lutero. Ele estava profundamente consciente do próprio pecado, da santidade de Deus e de sua total incapacidade de obter o favor divino. Em 1510, Lutero viajou para Roma e ficou desiludido com o tipo de fé mecânica que encontrou ali. Fez tudo o que pôde para ser verdadeiramente piedoso. Subiu, até mesmo, a escada de Pilatos, em que Cristo supostamente caminhou. Lutero orava e beijava cada degrau à medida que prosseguia, mas, mesmo ali, suas dúvidas ainda fervilhavam.

Poucos anos depois, voltou para Wittenberg como doutor em Teologia, para ensinar disciplinas relacionadas à Bíblia. Em 1515, começou a lecionar sobre a epístola de Paulo aos Romanos. As palavras de Paulo consumiram a alma de Lutero.

"Minha situação era que, apesar de ser um monge impecável, eu me punha diante de Deus como um pecador perturbado por minha consciência e não tinha confiança de que meus méritos poderiam satisfazê-lo", escreveu Lutero.

"Noite e dia eu ponderava, até que vi a conexão entre a justiça de Deus e a afirmação de que Ό justo viverá pela fé'. Então, entendi que a justiça de Deus é a retidão pela qual a graça e a absoluta misericórdia de Deus nos justificam pela fé. Em razão dessa descoberta, senti que renascera e entrara pelas portas abertas do paraíso. Toda a Escritura passou a ter um novo significado [...] esta passagem de Paulo tornou-se, para mim, o portão para o céu".

Assim, mais confiante em suas crenças e com algum apoio de seus colegas, Lutero sentiu-se livre para falar contra a corrupção. Ele já criticava a venda de indulgências e a adoração das relíquias mesmo antes de Tetzel aparecer em sua região. Tetzel simplesmente fez com que o conflito alcançasse uma posição de destaque. As noventa e cinco teses de Lutero eram profundamente restritas, caso consideremos a sublevação que provocaram. Afinal, eram apenas um convite ao debate.

Ele realmente conseguiu um debate, primeiramente com Tetzel e, mais tarde, com o renomado estudioso João Eck, que acusou Lutero de heresia. No primeiro momento, parecia que Lutero esperava que o papa concordasse com ele sobre o abuso na questão das indulgências. Conforme a controvérsia continuou, Lutero, porém, solidificou sua oposição ao papado. Em 1520, o papa emitiu uma bula (decreto) condenando as idéias do monge alemão, e Lutero a queimou. Em 152 1, a Dieta (concilio) de Worms ordenou que Lutero se retratasse. Ali, segundo a lenda, Lutero afirmou: "Não posso fazer outra coisa. Aqui estou. Deus me ajude. Amém".

Depois disso, Lutero foi excomungado, e seus escritos foram banidos. Para sua proteção, foi levado à força por seu patrono Frederico, o Sábio, e ficou escondido no castelo de Wartburg. Ali, ele trabalhou em outros escritos teológicos e na tradução do Novo Testamento para o alemão popular.

Contudo, a batalha apenas começava. Quando ousou fazer oposição ao papa, Lutero despertou os sentimentos de independência tanto nos nobres alemães quanto no povo em geral. A Alemanha se tornou uma colcha de retalhos, à medida que alguns nobres apoiaram Lutero e outros permaneceram leais a Roma. A Reforma já estava em preparação também na Suíça, liderada por Ulrico Zuínglio. A igreja e o Sacro Império Romano voltaram sua atenção para as batalhas políticas que se estenderam por toda a década de 1520. Quando decidiram agir de forma enérgica contra os reformadores, já era tarde demais.

Uma reunião realizada na cidade de Augsburgo, em 1530, chegou perto de fazer com que a causa luterana voltasse a ficar sob a tutela romana. Filipe Melâncton, amigo de Lutero, preparou uma afirmação conciliatória das idéias de Lutero, apresentando seu ponto de vista como um posicionamento fiel ao catolicismo histórico. Porém, o concilio católico exigiu concessões que Lutero não faria, e a ruptura se tornou definitiva.

Em retrospecto, parece que os acontecimentos da Reforma devem muito à personalidade única de Lutero. Se não fosse sua dúvida profunda, talvez jamais tivesse garimpado as verdades das Escrituras como fez. Sem seu zelo pela justiça, talvez nunca afixasse seu protesto na porta da catedral. Sem sua impetuosidade, talvez jamais atraísse um número significativo de seguidores. Ele viveu em um tempo propício às mudanças e era o homem indicado para fazer com que acontecessem

terça-feira, 2 de outubro de 2012


O artista da Capela Sistina – a historia de Michelangelo.

            Certa manhã no inverno de 1494, o jovem Michelangelo Buonarroti olhava pela janela a cidade coberta de branco. A neve que caíra durante a noite inteira cobria as ruas, praças, igrejas e palácios, transformando Florença numa cidade de mármore. Mas a bela paisagem entristecia Michelangelo, pois lhe recordava que se amigo e patrono, o duque Lorenzo de Médici, não mais existia. Lorenzo fora o primeiro a reconhecer o talento do jovem escultor, recebera-o em seu palácio e lhe encomendara várias esculturas em mármore.

            Agora, depois da morte do duque, seu filho Piero assumira seu lugar. Piero era um bobo vaidoso e não via utilidade para artistas da estatura de Michelangelo. Gostava de festas, jogos e cavalos, e admirava mais um cavalariço que sabia montar bem do que um mero escultor.

            Uma batida na porta despertou Michelangelo do devaneio. Pela janela, viu que era um dos impudentes mensageiros de Piero. O mensageiro olhou para cima e, dando com o escultor na janela, gritou: _Desça aqui, Michelangelo! É o seu dia de sorte. Piero me mandou buscar o famoso escultor para encomendar uma estátua!

            _ Ande logo! – tornou a gritar o mensageiro. – Rápido! Sua Magnificência não vai esperar a vida inteira!

            _Tem certeza? – perguntou Michelangelo. _ Piero nunca me chamou ao palácio.

            _ Pois está chamando agora, meu amigo. Tem um bloco de mármore enorme para você usar seu dom. Ande logo!

            _ Michelangelo vestiu o manto e correu escada abaixo e seguiu o mensageiro em silencio, mas seu coração saltava a cada passo.

            _ É o seu dia de sorte, hein? – escarnecia o mensageiro, cruzando a praça, cheia de neve. – Trabalhar de novo para a nobre família Médici; pode existir coisa melhor?

            Pouco depois chegaram ao palácio. Encontraram Piero com alguns amigos, junto à janela de um aposento do segundo andar.

            _ Aí estar! – exclamou Piero. – Deve ter pensado que eu nunca chamaria voce, jovem mestre! Mas estamos precisando da sua arte hoje. Você tem mesmo muito talento, não tem, meu amigo?

            Michelangelo olhou diretamente nos olhos de Piero.

            _Seu pai achava que sim – respondeu, sério.

            Piero enrubesceu levemente, mas virou-se para a janela e continou: _ Vou dar um jantar essa noite e quero mostrar uma bela estátua sua aos meus convidados. O material está no jardim: camadas de mármore branco com que voce tanto sonha, cobrindo todo o chão. É claro que amanhã de manhã o sol derreterá sua obra de arte, mas nada dura para sempre, não é verdade, mestre?

            Michelangelo empertigou-se. Não podia crer no que ouvia. Ele, Michelangelo, o orgulho de Florença, fazer uma estátua de neve!         

            Sentiu a raiva subir em seu peito, apertar seu coração, prender sua respiração, contrair sua garganta. Viu o sorriso zombeteiro de Piero, e seus amigos. Teve vontade de matar, esmagar todos eles, fazê-los sentir sua fúria. Mas não ousava. A vergonha tomou o lugar da raiva, queria sair correndo, se esconder e nunca mais ser visto por aquele bando de tolos arrogantes.

            Alguma coisa dentro dele no entanto o fez permanecer ali. Era um momento difícil de suportar, mas Michelangelo confiava em si mesmo. Sabia possuir um talento raro e nada seria obstáculo à sua arte. As ondas de raiva e humilhação se desfizeram, e ele encontrou uma resposta: _ Atenderei ao seu pedido, nobre Médici.
            Abandonou-os e momentos depois chegava ao jardim, aliviado por estar só, o olhar fixo no imaculado lençol branco estendido a seus pés.

            _ Vou mostrar o meu talento – murmurou. _ Até a neve serve à minha arte.

            Começou a trabalhar com presteza. Empilhou a neve, fez um monte bem batido, empilhou mais, socou mais. Passou horas empilhando neve até conseguir um bloco enorme e bem rígido, com os de mármore.

            Começou a esculpir, com o melhor de seu talento. Uma cabeça emergiu, os braços, mãos, pés. A massa de gelo ganhava vida. Uma figura vigorosa nascia no jardim. Afastava-se para avaliar o trabalho e voltava,  alheio a tudo, exceto à sua arte. Enfim ficou pronta a enorme estátua de neve.

            Deu por terminada. Era um belo trabalho. Amanhã nada restaria dele, mas, por algumas horas, faria Florença mais bela.

            Uma exclamação de assombro arrancou Michelangelo da contemplação da própria obra. Piero estava parado, atrás dele, boquiaberto diante do imenso homem de neve. O sorriso de escárnio tinha se transformado num brilho de admiração nos olhos de Piero, mas o olhar deslumbrado logo deu lugar a uma nuvem de tristeza.

_ Neve! ... Neve, não – murmurou. _ é uma coisa tão bela devia durar para sempre.

            Os anos se passaram. Michelangelo conquistou a admiração de toda a Itália. Um dia foi chamado a Roma para atender a uma encomenda do papa Júlio II. Cheio de entusiamo, foi às minas de mármore de Carrara, disposto a selecionar os melhores blocos. Encantando com as pedras gigantecas, via no interior de cada uma um ser à espera da libertação por meio do seu cinzel. Passou seis meses examinando, escolhendo, comprando, rejeitando, a mente repleta de imagens futuras.

            Quando chegou a Roma, porém, o papa havia mudado de idéia. Levou-o à Capela Sistina, um grande retângulo de altas paredes e teto em abóboda.

            _ Vamos decorar o teto! – disse o papa. – Voce vai pintá-lo. Michelangelo empalideceu.

            _Mas sou escultor! – protestou. – Não sou pintor.

            _ Voce não aprendeu a misturar tintas com mestre Ghirlandaio? É só lembrar o que ele lhe ensinou!

            _ Mas não pinto há muitos anos! Chame Rafael. Ele é excelente pintor.

            _ Claro que não. Rafael está ocupado. Além disso, vi muitos desenhos seus. São os melhores.

            Michelangelo olhou para o teto alto. Centenas de metros quadrados para cobrir de pinturas – levaria meses. Pensou nos blocos de mármore, que estariam parados, inúteis por todo esse tempo, e estremeceu. Não era o que queria fazer! Mas engoliu a raiva e o desapontamento. Não era fácil dizer não ao papa, principalmente a um papa tão insistente. E aceitou, mas com o coração pesado.

            E lá se foi Michelangelo escada acima, para pintar deitado num andaime. Era um trabalho torturante. As tintas caíam em seu rosto, queimavam seus olhos, e cada vez ele odiava mais aquela missão.

            _ Sou escultor, não pintor! – resmungava.

            Havia muitos anos não pintava, e receava não ser capaz. Pediu ajuda a outros artistas, mas logo descobriu que atrapalhavam mais do que ajudavam. Dispensou-os e apagou tudo que haviam feito. Trabalhando sozinho, em contato somente com seu ajudante de preparo de tintas e com o papa. “Se vale a pena ser feito, vale a pena ser bem feito”, dizia a si mesmo. E prosseguia deitado, pintando no silencio e na solidão.

            Um dia viu, horrorizado, que a superfície recém-pintada começava a mofar.

            _ Eu avisei a Sua Santidade que não sou pintor! _ gritou _.  _ Tudo que já fiz está estragado! _ Mas em seguida descobriu que apenas tinha posto água demais no gesso e não prejudicara o resultado.

            E prosseguiu. Começava a pintar ao raiar do dia e só parava quando não enxergava mais as cores. Muitas noites nem saía da capela. Acostumou-se tanto à incômoda posição  que, quando recebia uma carta, inclinava a cabeça para trás e levantava a carta para ler. Mal parava para comer, contentando-se geralmente com um pedaço de pão. Adoeceu de exaustão. Mas prosseguia.

            Às vezes o papa, muito impaciente, subia ao andaime para fiscalizar a obra.

            _Quando vai terminar? – e era invariável pergunta.

            _ Quando eu acabar! – era invariável resposta.

            Gradualmente emergiam do teto as mais perfeitas formas criados por mãos humanas. Deus Pai separando a luz e as trevas; a criação de Adão e Eva; a expulsão do paraíso; o dilúvio. Uma após outra, iam surgindo do pincel de Michelangelo mais de trezentas figuras, sublimes, plenas de força e grandiosidade das esculturas do mestre.

            Passados quatro longos anos de fadiga e isolamento, a imensa tarefa foi terminada. O andaime foi retirado, as portas da Capela Sistina foram abertas. As pessoas vinham olhar, boquiabertas diante da magnitude da obra de arte. Quando Rafael apareceu – mesmo Rafael que Michelangelo pedira ao papa que contratasse em vez dele -, agradeceu a Deus ter nascido no mesmo século que Michelangelo.

            Ainda hoje as multidões que visitam a Capela Sistina admiram o teto, extasiadas diante da obra de um único homem cobrindo tamanho espaço com tanta maestria artística, trazendo à vida tantas visões grandiosas. Calam-se maravilhados perante o resultado da determinação e do gênio de um homem, das pinturas mais magníficas do mundo criadas pelas mãos de um escultor.


           


segunda-feira, 3 de setembro de 2012


E se D. João VI não tivesse vindo? A história da Independencia do Brasil.


Desde o início da Revolução Francesa (1789) e, sobretudo, desde a execução de Luís XVI em 1793, o ambiente nas cortes européias era de inquietação. Em Portugal e na Espanha, era também de temor, devido à ligação familiar de seus soberanos com os Bourbon de França. Este enlace vinha desde Felipe V (1683-1746), neto de Luís XIV, que inaugurara o reinado dos Bourbon na Espanha. Em Portugal, a presença dos Bourbon era representada por Carlota Joaquina, mulher do príncipe regente.
Guilhotinado Luís XVI, declararam guerra à França o rei da Espanha, Carlos IV, e seu genro, o príncipe regente português D. João VI. Mas a Espanha não era mais, como nos tempos de Felipe II, uma das primeiras potências da Europa. Apenas dois anos depois, celebraria com a França Revolucionária os tratados de paz de Basiléia, que obrigaram Portugal a recuar também.
A situação piorou consideravelmente a partir de 1799, quando Napoleão Bonaparte, encorajado pelas vitórias na Itália e no Egito, foi eleito primeiro cônsul. O corso lançou então uma campanha que transformou em pânico o que antes era apenas  preocupação entre as monarquias européias. Uma após outra, Áustria, Prússia e Rússia, as principais potências, foram derrotadas e forçadas a assinar tratados desvantajosos, quando não humilhantes. Somente a Grã-Bretanha se mantinha de pé, protegida pela geografia e pela força de sua Marinha de Guerra. Em 1801, o único país continental que ainda não rompera com a Coroa britânica, por pressão de Napoleão, era o pequeno Portugal.
A corte portuguesa – governada desde 1792 pelo príncipe regente D. João em decorrência da doença de sua mãe, D. Maria I – vivia um impasse, pressionada em terra por Napoleão e no mar, pela Grã-Bretanha. O príncipe regente angustiava-se. Não fora educado para governar e não gostava de governar. Tornara-se herdeiro forçado do trono após a morte do irmão mais velho, D. José, em 1788. De natureza pacífica e tímida, hesitava diante de decisões difíceis. E nada mais difícil do que aquilo que o desafiava. Sua própria corte dividia-se entre simpatizantes dos ingleses (anglófilos), como D. Rodrigo de Sousa Coutinho, primeiro conde de Linhares, e dos franceses (francófilos), como Aires José Maria de Saldanha Albuquerque Coutinho Matos e Noronha, segundo conde da Ega, e Antônio de Araújo e Azevedo, primeiro conde da Barca. D. João buscava equilibrar-se na missão quase impossível de não desagradar a nenhum dos dois lados. Mas o cerco se estreitava.
Em 1801, a França convenceu a Espanha, sua aliada, a assinar um ultimato conjunto exigindo de Portugal o rompimento com a Grã-Bretanha. Sem esperar pela negociação, forças espanholas, comandadas pelo poderoso primeiro-ministro Manuel de Godoy, invadiram o Alentejo e o dominaram em apenas 18 dias, no que ficou conhecido como a Guerra das Laranjas (1801). No mesmo ano, Portugal foi forçado a assinar um tratado humilhante em Badajoz, obrigando-se a fechar os portos e o território à Grã-Bretanha.
As seguidas vitórias de Napoleão agravavam a situação do governo português e faziam crescer a influência do partido francês. Araújo e Azevedo tornou-se ministro dos Negócios Estrangeiros em 1803, quando foi assinado o Tratado de Madri, que estabelecia a neutralidade entre França, Portugal e Espanha. No ano seguinte, o general Andoche Junot foi nomeado ministro francês na corte portuguesa. Carlota Joaquina tentou dele se aproximar no intuito de selar a paz entre os dois países. Para D. João, no entanto, a pressão revelou-se excessiva. Em 1805, ele entrou em profunda depressão, isolando-se entre os frades do convento de Mafra. A loucura da mãe, D. Maria I, fazia com que surgissem os piores receios sobre a natureza de sua doença.
O isolamento do regente deu motivo a um complô palaciano, chamado de Conspiração do Alfeite (1805-6). Os conspiradores visavam interditar o príncipe e entregar a regência a Carlota Joaquina. Descobertos, D. João impediu que fossem punidos com o rigor da lei. Mas seu estado não melhorou. Em 13 de agosto de 1806, a própria Carlota Joaquina escreveu à mãe, Maria Luísa, rainha de Espanha, dizendo que D. João estava “con la cabeza perdida quasi del todo” e pedindo uma intervenção em favor dela e de seus filhos. No ano seguinte, Napoleão deu mais uma volta no torniquete. Tendo derrotado os russos em junho na batalha de Friedland, sentiu-se livre para se voltar para o outro extremo da Europa, impaciente com as contemporizações portuguesas e insatisfeito com os acordos com a Espanha.
Em agosto, intimou Portugal a cortar totalmente as relações com a Grã-Bretanha, aderir ao bloqueio continental e seqüestrar os bens dos súditos britânicos, ao mesmo tempo em que concentrava tropas na fronteira com a Espanha, sob o comando de Junot. A corte de Lisboa continuou o jogo duplo. Em setembro, aderiu ao bloqueio continental, que fechava todos os portos europeus ao comércio com a Inglaterra. No mês seguinte, celebrou uma convenção secreta com os britânicos, contemplando a possível transferência da corte para o Brasil e a abertura dos portos coloniais. No mesmo mês, França e Espanha assinaram o Tratado de Fontainebleau, pelo qual decidiam a partilha de Portugal. Araújo e Azevedo ainda enviou o marquês de Marialva para tentar negociar, levando diamantes de presente. Mas o marquês não passou de Madri. Em outubro, Napoleão mandou Junot entrar na Espanha com 28 mil homens, a caminho de Lisboa. Jogando uma última cartada, D. João decretou a prisão dos súditos britânicos e o seqüestro de seus bens. O ministro britânico Lord Strangford fechou a legação, deixou Lisboa e recolheu-se aos navios da esquadra britânica ancorada perto da foz do Tejo.
A 17 de novembro, as tropas francesas entraram em Portugal atropeladamente, em desabalada carreira em direção a Lisboa, sem encontrar resistência. Na capital, corriam boatos sobre o possível embarque de D. Pedro, o príncipe da Beira, uma criança de 9 anos de idade, ou de toda a família real. Carlota Joaquina desesperava-se diante da possibilidade de ter que embarcar para o Brasil, e repetia as súplicas à mãe para que a socorresse e mandasse buscar suas filhas. Em resposta, Maria Luísa prometeu intervir caso D. João abandonasse a mulher e partisse sozinho para o Brasil. A hipótese também tornaria possível uma eventual incorporação de Portugal, talvez sob a regência da própria Carlota Joaquina.
No dia 25 de novembro, houve uma tensa reunião do Conselho de Estado para decidir sobre o que fazer. Ficar ou não ficar era a questão. Uma escolha de Sofia, de vez que não havia opção sem altos custos. Ficar significava correr o risco de humilhação da família real, de retaliação dos britânicos, que em setembro já tinham bombardeado Copenhagen, e de perda do Brasil, que representava 80% do comércio externo de Portugal com suas colônias e 60% de todas as exportações portuguesas. Fugir, além de humilhante, significava trair os súditos, abandonar o reino aos inimigos, enfrentar a ira da população já agitada de Lisboa, incorrer ainda mais no ódio da esposa (e, quem sabe, na reação dos sogros), além de arrostar os inúmeros perigos de uma viagem marítima de quarenta e cinco dias com toda a família, milhares de cortesãos e grande quantidade de valores.
A timidez do regente, seu medo do risco, o apego a seu país e seus súditos, o receio da reação da esposa e dos sogros e as esperanças de um acordo final com os franceses falaram mais alto. Contrariando a opinião dos conselheiros, o príncipe regente D. João tomou a mais importante decisão de sua vida. Resolveu ficar.
O episódio dramático ficou conhecido na história portuguesa como o Dia do Fico. As conseqüências da decisão são conhecidas. Os franceses levaram a família real para o exílio na França, permitindo que Carlota Joaquina voltasse para a casa dos pais na Espanha, e passaram a governar com o apoio de seus amigos na corte portuguesa: o conde da Ega, cuja mulher se tornou amante de Junot, Araújo e Azevedo, o marquês de Alorna e outros.
Pelo lado da Grã-Bretanha, Canning, ministro dos Negócios Estrangeiros, levando em consideração a longa história de amizade com Portugal, decidiu não bombardear Lisboa. Contentou-se em ordenar a Lord Strangford que confiscasse a esquadra portuguesa para que não caísse nas mãos dos franceses. Mas fez também o que mais lhe interessava: pôs em prática o dispositivo da convenção secreta de setembro que lhe abria os portos das colônias portuguesas, sobretudo do Brasil.
O infortunado D. João não resistiu ao impacto dos acontecimentos e às agruras do exílio. Sua depressão agravou-se e o levou à morte em 1812. Um ano depois, seguia-o sua não menos desventurada mãe, a rainha D. Maria I.
Na corte espanhola, Carlota Joaquina retomou suas confabulações políticas, mas por pouco tempo. Em julho de 1808, Napoleão forçou Fernando VII, filho de Carlos IV, a devolver o governo ao pai. Deste, exigiu que renunciasse em favor de seu irmão, José Bonaparte. A família real espanhola reuniu-se à portuguesa no exílio. Mas com o início da queda de Napoleão após a batalha de Leipzig, em outubro de 1813, Fernando VII foi libertado e regressou à Espanha com Carlota Joaquina. Mais hábil que o irmão, a princesa negociou com as cortes a sucessão ao trono espanhol, usando como chamariz a proposta de reunir as duas coroas, uma vez que era a legítima regente do trono português. Com o apoio de seus partidários em Lisboa, conseguiu concretizar a fusão, criando a União Monárquica Ibérica, uma retomada da União Ibérica de 1580. Mais de século e meio mais tarde, a Constituição espanhola de 1978 conferiu a Portugal o estatuto de Comunidade Autônoma da União Monárquica Ibérica.
Enquanto tudo isso se passava na Europa, as colônias espanhola e portuguesa na América entraram em fase de grande turbulência. Desaparecida a fonte de legitimidade monárquica que por três séculos sustentara a unidade dos dois sistemas, as forças centrífugas se manifestaram e teve início o processo de desagregação. Cada vice-reinado, cada capitania-geral, cada audiência e até mesmo cada municipalidade julgou-se no direito de decidir a quem obedecer. Para abreviar a história, na América espanhola os quatro vice-reinados e quatro capitanias-gerais se tinham transformado, em 1830, em 16 repúblicas independentes, organizando-se todas pelo modelo norte-americano. Posteriormente, acrescentaram mais dois países, Cuba e Panamá.
Na América portuguesa, as coisas não se passaram de modo muito distinto. Das 18 capitanias-gerais existentes em 1808, as de maior peso econômico movimentaram-se no sentido de construir a seu redor novos centros de poder político. Como no lado espanhol, a luta foi longa e marcada por guerras civis, rebeliões, repressões. O processo teve início, como não podia deixar de ser, em Pernambuco. Já em 1801, os participantes da Conspiração dos Suassunas tinham buscado o auxílio de Napoleão para se libertarem de Portugal. Com a prisão da corte portuguesa, voltaram à ação. Havia, no entanto, uma divisão básica entre os rebeldes. De um lado, os ideológicos do Areópago de Itambé (primeira loja maçônica do Brasil, fundada em 1796) e do Seminário de Olinda, padres em sua maioria, mais liberais, contrários à escravidão. De outro, os Suassunas e demais senhores de engenho, que não admitiam a abolição. Depois de muitas batalhas, criou-se a República dos Estados Unidos do Equador, que incorporava as capitanias vizinhas: Ceará, Paraíba, Rio Grande do Norte e Alagoas. A escravidão foi mantida, adotando-se um dispositivo constitucional que previa futuras medidas abolicionistas.
A transição mais tranqüila, ou menos tumultuada, verificou-se nas capitanias vizinhas à sede do vice-reino. Os antigos inconfidentes mineiros, apoiados em seus parentes paulistas, retomaram a luta independentista e negociaram com os comerciantes do Rio de Janeiro um pacto federativo. O esforço foi facilitado porque as tropas portuguesas haviam sido deslocadas pela Grã-Bretanha para auxiliar na luta contra a França na Península Ibérica. As unidades federadas adotaram o nome de República dos Estados Unidos do Brasil, mantendo-se o Rio de Janeiro como capital. A nova Constituição também manteve a escravidão. A capitania do Espírito Santo também aderiu à federação. Em 1930, em decorrência de seu rápido desenvolvimento econômico, São Paulo separou-se dos Estados Unidos do Brasil, constituindo a República Bandeirante.
Mais trabalhosa e violenta foi a batalha na capitania-geral da Bahia. As “francesias” (idéias sobre a Revolução Francesa) já lá haviam chegado em 1798, quando inspiraram o que se chamou de Conspiração dos Alfaiates. Vieram sob a forma de livrinhos subversivos distribuídos pelo comandante Larcher, da fragata La Preneuse. Além disso, houvera em 1806 uma revolta escrava em Salvador, e outra mais séria se dera em 1809 no Recôncavo. Os remanescentes dessas revoltas e conspirações voltaram a agir após a deposição do regente. Mas o poder econômico estava nas mãos dos senhores de engenho do Recôncavo e dos grandes traficantes de escravos de Salvador. Após prolongada guerra civil e racial, venceram os mais fortes. A parceria comercial com potentados africanos foi fortalecida com a preciosa ajuda do baiano Francisco Félix de Souza, traficante de escravos em Ajudá. No final, criou-se o Reino Unido da Bahia e da Guiné, a que aderiu a capitania de Sergipe del Rei. Sobrevindo a partilha da África pelas potências européias no final do século XIX, dissolveu-se o Reino Unido, e a Bahia tornou-se uma república.
Na capitania-geral de Rio Grande de São Pedro do Sul, a comunhão de interesses com a Banda Oriental, sempre receosa do expansionismo de Buenos Aires, levou à solução natural da união, resultando do acordo a formação da República dos Pampas, com capital em Montevidéu. A ela aderiu a capitania de Santa Catarina. O tráfico de escravos foi abolido e se deu logo início ao processo de gradativa abolição da escravidão.
Finalmente, a situação mais complexa verificou-se na área do antigo Estado do Maranhão e Grão-Pará. Não contando com centro econômico hegemônico, a região envolveu-se em longo período de turbulência, o que provocou a intervenção inglesa. Só em 1850 é que se consolidou o novo Estado que herdou o mesmo nome do antigo, sob uma forma republicana de governo, mantendo-se a escravidão.
Ao longo de todo esse processo de formação dos novos estados, a Grã-Bretanha esteve sempre vigilante para garantir o livre acesso aos mercados. Exerceu também constante pressão no sentido de interromper o tráfico de escravos, negociando tratados com cada um dos cinco novos países, com exceção do Estado do Maranhão e Grão-Pará, onde proibiu o tráfico logo após a intervenção.
Diante dessa evolução da colônia portuguesa da América, fica-se a pensar sobre como teria sido seu destino caso o príncipe D. João tivesse optado por abandonar Portugal para fugir das tropas de Junot. O historiador pode, sem dúvida, imaginar futuros alternativos como exercício mental. Difícil  é dizer se seriam melhores ou piores do que a realidade.
José Murilo de Carvalho é professor titular da UFRJ e autor de Dom Pedro II: Ser ou não ser (São Paulo: Companhia das Letras, 2007)

segunda-feira, 6 de agosto de 2012

O ESCÂNDALO DO MENSALÃO

O Partido dos Trabalhadores que durante muitos anos defendeu a bandeira da ética no Brasil agora quer esconder debaixo do tapete esse escândalo de recursos públicos praticado pelos seus principais fundadores, principalmente o cínico do ex-presidente Lula. Vejam alguns fatos concretos do mensalão:


Em entrevista ao jornal Folha de São Paulo, Roberto Jeferson denunciou a existência de pagamentos mensais de 30.000,00 a deputados da base aliada do governo. Ele acusou Delúbio Soares (tesoureiro do PT), de ser o principal operador.

O Deputado Roberto Jeferson disse que o dinheiro do mensalão era fornecido por estatais e empresas privadas e tinham negócios com o governo. As negociações ocorriam em sala ao lado do gabinete de José Dirceu, ministro da Casa Civil.

A Revista Veja revelou que Marcos Valério foi avalista, junto com Delúbio Soares e José Genoino, de um empréstimo ao PT de 2,4 milhões de reais. José Genoino, então presidente do PT, negou. Desmentido por documentos com sua assinatura, disse que assinou “sem ler”.

Entre agosto e outubro de 2003, Marcos Valério sacou 6,4 milhões nos bancos Rural e do Banco do Brasil. As datas dos saques coincidiam com os anúncios de adesão de deputados ao PL (hoje PR), PTB, PT e PP.
Delúbio Soares assumiu a existência de caixa dois no PT e apresentou-se como o único responsável pelas irregularidades.

DESCARAMENTO DO EX-PRESIDENTE: Em entrevista a uma jornalista brasileira na França, o Presidente Lula tentou defender o PT afirmando que o partido não fez nada além do que “é feito sistematicamente” no Brasil, mas ao dizer isso admitiu o uso de dinheiro de caixa dois na campanha eleitoral.

O presidente do PL, Valdemar Costa Neto (SP), renunciou ao mandato de deputado depois de admitir que recebeu dinheiro do PT – segundo, ele, para pagar dividas de campanha.

Em entrevista ao jornal O Estado de São Paulo, Marcos Valério confirmou o mensalão: “além do Dirceu, toda a cúpula do PT sabia. E ameaçou de novo: “VOU CONTAR TUDO O QUE SEI, MAS NÃO DE UMA VEZ. VOU CONTAR DEVARINHO E VOU FAZER UM ESTRAGO, UM BARULHÃO”.

Em 12 de agosto o Presidente Lula se peninteciou publicamente em rede nacional de televisão: “NÃO TENHO NENHUM VERGONHA DE DIZER AO POVO BRASILEIRO QUE NÓS TEMOS DE PEDIR DESCULPAS. O PT TEM DE PEDIR DESCULPAS”.

EM 14 de setembro a Câmara aprovou a cassação de Jefferson por quebra de decoro. No fim de seu discurso de defesa, ele bradou: “tirei a roupa do rei. Mostrei ao Brasil quem são esses fariseus”. 

terça-feira, 26 de junho de 2012


O significado do dia 2 de julho para Bahia.




Nenhum Estado Brasileiro comemora a Independência do Brasil com tanto entusiasmo quanto a Bahia. As diferenças começam pelo calendário. O feriado de Sete de Setembro, marcado nas outras regiões por desfiles militares e escolares aos quais o povo raramente comparece é ignorado pela maioria dos baianos. A verdadeira festa acontece no dia 2 de julho, data da expulsão das tropas portuguesas de Salvador em 1823. E só perde em grandiosidade para o Carnaval.

Antes ainda do alvorecer, milhares de pessoas saem às ruas para participar dos festejos. O desfile começa às nove horas com hasteamento das bandeiras em frente ao panteão da independência, no bairro da Lapa, e segue pelas ladeiras estreitas da cidade em direção ao largo de Campo Grande, aonde só chega ao final da tarde. Em todo o percurso, os moradores enfeitam suas casas, estendem faixas sobre as ruas e reúnem os amigos para celebrar. As alegorias misturam elementos de festa cívica, Carnaval e sincretismo religioso. 

Os baianos têm bons motivos para celebrar. Foram eles os brasileiros que mais lutaram e mais sofreram pela Independência. A guerra contra os portugueses na Bahia durou um ano e cinco meses, mobilizou mais de 16.000 pessoas só do lado brasileiro e custou centenas de vida. Foi também ali que o Brasil independente correu o mais sério risco de se fragmentar. Depois da expulsão das tropas do general Jorge de Avilez do Rio de Janeiro, em fevereiro de 1822, a metrópole portuguesa decidiu concentrar em Salvador todos os seus esforços militares. O objetivo era dividir o Brasil. As regiões Sul e Sudeste ficariam sob o controle do príncipe regente D. Pedro. O Norte e o Nordeste permaneceriam portugueses. 

Em 1822, a Bahia era um ponto estratégico importante para a consolidação do nascente império brasileiro. Terceira província mais populosa, depois de Minas Gerais e Rio de Janeiro, tinha 765.000 habitantes, dos quais 524.000 eram escravos. Uma das cidades mais movimentadas do mundo, Salvador concentrava uma importante indústria naval, que até então produzira navios para diversas regiões do império colonial português. Era também um grande centro exportador de açúcar  algodão, tabaco e outros produtos agrícolas. Sua principal atividade, no entanto, era o tráfico negreiro.  



Para chegar a este dia, muita luta foi travada...

O Brasil do início do século XVIII ainda era dominado por Portugal, enquanto o Rio de Janeiro, Pernambuco, Minas Gerais e a Bahia continuavam lutando pela independência. As províncias não suportavam mais a situação e, percebendo os privilégios que o Rio de Janeiro estava recebendo por ser a capital, Pernambuco e Bahia resolveram se rebelar.

Recife deu início a uma revolução anti-colonial em 6 de março de 1817. Esta revolução tinha uma ligação com a Bahia, já que havia grupos conspiradores compostos por militares, proprietários de engenhos, trabalhadores liberais e comerciantes. Ao saber desta movimentação, o então governador da Bahia, D. Marcos de Noronha e Brito advertiu alguns deles pessoalmente.

O governo estava em cima dos conspiradores e, devido à violenta série de assassinatos, muito baianos resolveram desistir. Com toda esta repressão, a revolução de Recife acabou sendo derrotada. Os presos pernambucanos foram trazidos para a Bahia, sendo muitos fuzilados no Campo da Pólvora ou presos na prisão de Aljube, onde grandes personagens baianos também estavam presos.

Movimentação pela independência:

Diante das insatisfações, começaram as guerras pela independência. Os oficiais militares e civis baianos passaram a restringir a Junta Provisória do Governo da Bahia, que ditava as ordens na época, e com esta atitude foi formado um grupo conspirativo que realizou a manifestação de 3 de Novembro de 1821.

Esta manifestação exigia o fim da Junta Provisória, mas foi impedida pela "Legião Constitucional Lusitana", ordenada pelo coronel Francisco de Paula e Oliveira. Os dias se passaram e os conflitos continuavam intensos. Muitos brasileiros morreram em combate.

Força portuguesa:

No dia 31 de Janeiro de 1822 a Junta Provisória foi modificada. E depois de alguns dias, chegou de Portugal um decreto que nomeava o brigadeiro português, Ignácio Luiz Madeira de Mello, o novo governador de Armas. 

Os oficias brasileiros não aceitavam esta imposição, pois este decreto teria que passar primeiro pela Câmara Municipal. Houve, então, forte resistência que envolveu muitos civis e militares.

Madeira de Mello não perdeu tempo e colocou as tropas portuguesas em prontidão, declarando que iria tomar posse. No dia 19 de fevereiro, os portugueses começaram a invadir quartéis, o forte São Pedro, inclusive o convento da Lapa, onde haviam alguns soldados brasileiros. Neste episódio, a abadessa Sónor Joana Angélica tentou impedir a entrada das tropas, mas acabou sendo morta.

Concluída a ocupação militar portuguesa em Salvador, Madeira de Mello fortaleceu as ligações entre a Bahia e Portugal. Assim a cidade recebeu novas tropas portuguesas e muitas famílias baianas fugiram para as cidades do recôncavo. 

Contra-ataque brasileiro:
No recôncavo, houve outras lutas para a independência das cidades e o fortalecimento do exército brasileiro. O coronel Joaquim Pires de Carvalho reuniu todo seu armamento e tropas e entregou o comando ao general Pedro Labatut. Este, assim que assumiu, intimidou Madeira de Mello.

Labatut organizou todo seu exército em duas brigadas e iniciou uma série de providências. Aos poucos o exército brasileiro veio conquistando novos territórios até chegar próximo a cidade de Salvador.

Madeira de Mello recebeu novas tropas de Portugal e pretendia fechar o cerco pela ilha de Itaparica e Barra do Paraguaçu. Esta atitude preocupava os brasileiros, mas os movimentos de defesa do território cresciam. E foi na defesa da Barra do Paraguaçu que Maria Quitéria de Jesus Medeiros se destacou, uma corajosa mulher que vestiu as fardas de soldado do batalhão de "Voluntários do Príncipe" e lutou em defesa do Brasil. Nascida em Feira de Santana, filha de lavradores pobres, Maria Quitéria de Jesus tinha trinta anos quando a Bahia começou a pegar em armas contra os portugueses. Apesar da proibição de mulheres nos batalhões de voluntários, decidiu alistar-se às escondidas. Cortou os cabelos, amarrou os seios, vestiu-se de homem e incorporou-se às fileiras brasileiras com o nome de "Soldado Medeiros". Maria Quitéria participou de pelo menos tres combates e em todos se destacou pela bravura. 



Em maio de 1823, Labatut, em uma demonstração de autoridade, ordenou prisões de oficiais brasileiros, mesmo sendo avisado do erro que estava cometendo, e acabou sendo cassado do comando e preso. O coronel José Joaquim de Lima e Silva assumiu o comando geral do Exército e no dia 3 de Junho ordenou uma grande ofensiva contra os portugueses. Com a força da Marinha Brasileira, o coronel apertou o cerco contra a cidade de Salvador, que estava sob domínio português, restringindo o abastecimento de materiais de primeira necessidade. Diante destes fortes ataques e das necessidades que estavam passando, Madeira de Mello enviou apelos e acabou se rendendo. Com a vitória, o Exército Brasileiro entrou em Salvador consolidando a retomada da cidade e fim da ocupação portuguesa no Brasil.