quarta-feira, 17 de fevereiro de 2021

                                          Estrada de ferro “Bahia Minas”

Olá, meus caros alunos, hoje, vamos falar de um assunto que tem tudo a ver com a nossa região, que é estrada de ferro “Bahia Minas”. Nesse tempo, época que tínhamos um imperador (Dom Pedro 2), Bahia ainda se escrevia sem o “h”. Foi nesse tempo imperial que começou a circular os trens em direção ao porto de Caravelas, ponta de areia BA.

Então, como começou? Esse projeto político era do mineiro Teófilo Otoni (1807 – 1869). Somente depois de 11 anos de sua morte o governo mineiro concedeu a empreitada da construção da ferrovia ao engenheiro civil Miguel de Teive e Argolo (hoje o povoado de Argolo homenageia o engenheiro). E no dia 16 de maio de 1881, com grande festa, foi fixado o primeiro trilho da estrada de ferro, era o KM 0 da ferrovia. 

O KM 0 encontra-se em Caravelas, em Ponta de Areia. Depois, passa por Helvécia, Posto da Mata (Km 103). Em 1882, a ferrovia chega em Serra dos Aimorés. Somente em 1898 chegou à cidade mineira de Teófilo Otoni. Que dia, meus caros alunos! Os sinos da igreja badalaram, a multidão foi para rua, e ouvia-se estouros de morteiros e de bombas cabeça-de-negro “cobriu de fumaça o céu azul”. E seu ponto final e definitivo, foi em Araçuaí, em 1942. No total, de Ponta de Areia, Caravelas BA, até Araçuaí MG, foram quase 580 km de ferrovia. 

A estrada de ferro “Bahia Minas” estava todo vapor para transportar madeira, café, desenvolver o comércio local de cada ponto onde passava o trem, tornar rápida as viagens e acelerar o desenvolvimento de cada localidade. Era corriqueiro na vida dos mineiros e baianos ouvir o som da “Maria Fumaça” passando pelas suas cidades, trazendo e levando mercadorias e pessoas. Em Posto da Mata, temos até os dias de hoje, o posto onde parava o trem; em Aimorezinho (Ibiranhém), em Helvécia, enfim, temos vestígios de uma época cheia de vida e de esperança. 

Portanto, esses quase 600 km de ferrovia tinham como objetivo a ligação da região do vale do Jequitinhonha (uma região sofrida, com pouca chuva), até o litoral da Bahia para expandir o comércio de transporte de cargas, madeiras, café, serviços, como telégrafos (uma espécie de telefone/fax), transportes de pessoas e atividades sociais comunicativas. Chegando em Ponta de Areia, Caravelas, todas as mercadorias e pessoas embarcavam em navios em direção aos grandes portos do Brasil.

Contudo, como a gente sabe o velho ditado “tudo que é bom, duro pouco”. Depois de quase mais de oito décadas, a ferrovia deixou de funcionar em 1966. Deixando imensa saudade na população dos vales do Jequitinhonha e Mucuri. Hoje, vemos estações abandonadas, dormentes, algumas viraram Correios ou Policia Militar... estradas vicinais e eucaliptos, uma pagina da história descarrilou.

Bem, de lá para os dias de hoje, a ferrovia “Bahia Minas” foi cantada em prosa e rendeu livros – o mais famoso lamento está contido na musica “Ponta de Areia”, composta por Fernando Brant e Milton Nascimento, vejamos a letra da canção:

Ponta de areia
Ponto final
Da Bahia-Minas
Estrada natural

Que ligava Minas
Ao porto, ao mar
Caminho de ferro
Mandaram arrancar

Velho maquinista
Com seu boné
Lembra o povo alegre
Que vinha cortejar

Maria-fumaça
Não canta mais
Para a moça, as flores
Janelas e quintais

Na praça vazia
Um grito, um ai
Casas esquecidas
Viúvas nos portais

Maria-fumaça
Não canta mais
Para a moça, as flores
Janelas e quintais

Na praça vazia
Um grito, um ai
Casas esquecidas
Viúvas nos portais

E, agora, o que poderia acontecer com a nossa região? O apego á ferrovia além de econômico era também emocional. Uma simbiose, um cordão umbilical de quase oitenta anos, aliás, muita gente abandonou a cidade, acreditando que a região estaria acabada. . No entanto, depois da desativação da ferrovia, o que parecia o fim, foi apenas o começo de uma nova era. A rodovia que havia sido prometida se concretizou e o lugar virou ponto de parada de vários caminhoneiros, ônibus, turistas, etc.

No idos dos anos 80 (1980) e inicio dos anos 90, o plantio de mamão empregou desde o mais velho ao menino na região, fortalecendo e dinamizando, trazendo uma prosperidade econômica significativa. Aqui, temos uma terra boa, uma terra que, conforme Pero Vaz de Caminha, em uma carta em 01 de maio de 1500, endereçada ao Rei de Portugal,  estando no extremo sul da Bahia, escreveu: “em se plantando tudo dá”. Portanto, na opinião dos moradores mais antigos, fora o plantio de mamão que proporcionou a melhor época de vista econômico para a região. 

 Alguns fatos importantes de Posto da Mata:

Desativação da Ferrovia Bahia Minas no final dos anos 70.

A criação da primeira escola de Posto da Mata: Colégio Municipal Vera Cruz em 1963.

Chegada da Aracruz Celulose à região

Fornecimento de energia pela Coelba em 1978

A fundação do banco do Brasil em 1991


segunda-feira, 8 de fevereiro de 2021

 Rafael, o Anjo Negro de Pedro II.

 


Ao deixar o país, o imperador Pedro I selecionou três pessoas (José Bonifácio, “Dadama” Condessa de Belmonte e Rafael) para cuidarem de seu filho e das filhas remanescentes, uma das pessoas escolhidas foi Rafael, um veterano negro da Guerra da Cisplatina.

 

Rafael era um empregado do paço de São Cristóvão (não era escravo) em quem Pedro I possuía profunda confiança e lealdade, pedindo que olhasse por seu filho, um olhar mais carinhoso e paternal — pedido que levaria a termo pelo resto de sua vida.

 

Rafael, o Anjo Negro de Pedro II.

 

Rafael, negro veterano da Guerra da Cisplatina, foi encarregado de cuidar de Dom Pedro II, então de tenríssima idade pelo seu pai o Imperador Dom Pedro I, quando este regressou a Portugal em 1831.

 

Rafael, foi mandado vir em 1831 do Sul, Pedro I conhecia-o bem. Foi um protetor incansável e extremamente abnegado de Pedro II ainda menino.

Dormia no mesmo quarto, evitava que o Imperador chorasse ou se assustasse “com medo das almas de outro mundo” e outras fantasias tão próprias da solidão, em que prevaleciam estudo áridos, religião, serões insípidos e jogos de mesa silenciosamente praticados – era a educação principesca!

 Nisso relata-nos Benedito Freitas:

“Incumbido da guarda e proteção de Dom Pedro II ainda em tenra idade (5 anos), foi de uma dedicação tal que, até determinadas atribuições das Damas, ele as executava com desembaraço e plena eficiência.

 Dava-lhe os banhos habituais tendo todo o cuidado com a temperatura da água, bem morna sem ser quente, mudava-lhe a roupa e cobria na cama, cabeça de fora, a bela criança pedia ao seu Anjo Negro para contar histórias e outras coisas em que era fértil seu leal servidor.

 Certo dia ainda na época que Dona Leopoldina era viva, ficou enternecida ao contemplar Rafael aquecendo a mamadeira do Menino-Imperador.

Quando Dom Pedro II não sabia a lição, corria para Rafael pedindo-lhe para o esconder, embora fosse condicionado sempre, que seria a “última vez” ….

 Mais tarde Dom Pedro II ensinou Rafael a ler, escrever, falar francês e inglês.

 Por muito tempo Rafael foi 1º Criado Particular do Imperador e em todas as viagens, mesmo ao estrangeiro, o acompanhou de perto.

 A única presença não masculina de tanta cumplicidade era a Condessa de Belmonte, chamada sempre carinhosamente de “Dadama”.

 A figura quase lendária de Rafael é amplamente descrita no belo livro de Múcio Teixeira, que foi comensal do Imperador por mais de trinta anos, “O Negro da Quinta Imperial”.

 Rafael contava com 98 anos quando Dom Pedro II foi deposto.

 O “Anjo Negro” do Imperador ignorava o doloroso episódio da prisão do seu menino.

 Múcio conta a cena da comunicação ao leal macróbio, nas seguintes linhas: “Manhã sombria.

 Uma chuva miúda caíra pela madrugada do dia 16 de novembro de 1889.

As vastas alamedas da Quinta Imperial estavam desertas….

 Rafael, mal raiara a aurora, abandonou seus aposentos, nos baixos do torreão sul, e, muito tremulo, amparado por um rijo bastão, deu início ao seu passeio habitual.

 Velho e cansado, passara o dia anterior preso ao leito, ignorando que a República havia sido “proclamada” no Brasil.

 Vagarosamente caminhava, ouvindo o gorjeio dos pássaros e contemplando, com olhar nostálgico, os lagos sonolentos.

 Fitava também os bosques sombrios e admirava a Natureza exuberante.

Quantas daquelas árvores gigantescas ele vira nascer, florir e envelhecer!

Caminhava e meditava, olhando também para o passado, para a sua longínqua mocidade!

 Quantos sonhos desfeitos!

 “Como é triste envelhecer!” – murmurava o velho pajem imperial.

Ao chegar ao portão da Coroa, já ofegante, observou com espanto dois soldados que davam “vivas a república”!

 Sempre meditando, lentamente regressou ao Paço.

 Ao aproximar-se do solitário Palácio Imperial, viu o bibliotecário Raposo muito agitado, com cabelos revoltos, andando de um lado para outro lado…

Rafael, muito cansado, curvado e tremulo, sempre amparado pelo seu bastão, dirigiu-se ao bibliotecário do Paço e interrogou-lhe:

“Seu Raposo, você enlouqueceu?”

 Parando diante do Rafael, o Raposo, como louco, bradou: “

Rafael, tu não sabes que ontem foi proclamada a República e que teu “menino” está preso no Paço da Cidade??”.

 Rafael, atordoado, deixou cair o forte bastão de ouro e jacarandá, no qual a vinte anos se apoiava seu débil corpo;

curvado, ergueu-se, cresceu…

 O seu olhar morto e nostálgico, transfigurou-se, como que iluminado por clarões estranhos.

 Levantou o braço direito para o céu e exclamou com voz comovente e sonora:

“Que a Maldição de Deus caia sobre a cabeça dos algozes do meu Menino!”

E em seguida rolou por terra: estava morto.”

 No mesmo momento em que o navio Alagoas cruzava a baía de Guanabara com seu menino e toda família imperial ...

 Ele faleceu aos seus 99 anos em um simples desmaio.

 São as “pequenas” grandes Histórias do Brasil Império, que não são contadas nas Escolas e não fazem parte do currículo, que lamentavelmente fazem-se esquecer nas prateleiras do esquecimento, legando ao Brasil uma cultura de botequim, moldada e forjada pelos sensos comuns grotescos que vemos nas novelas e filmes nacionais.

 

EQUIPE PEDRO II DO BRASIL