quinta-feira, 25 de setembro de 2014

JOVENS E OS GRUPOS TERRORISTAS.



Brian de Mulder tem 21 anos, é belga, mas fala português graças à mãe, a brasileira Rosana Rodrigues, que vive no país há 24 anos. Católico praticante e ex-jogador de futebol, ele nasceu e foi criado no país, que tem uma das melhores qualidades de vida do planeta, mas, paradoxalmente, é um celeiro de extremistas do Estado Islâmico (EI) - estima-se que mais 300 belgas lutem em nome da jihad no Iraque e na Síria.
     Brian, agora um deles, é conhecido como Abu Qassem al-Brazili ("o brasileiro", em árabe). Em entrevista exclusiva ao "Fantástico", da TV Globo, Rosana contou que busca respostas sobre o que levou o filho a se tornar um radical de um dos grupos mais perigosos da atualidade. E revelou que teme que ele se torne um homem-bomba:
"Que meu filho não chegue ao ponto de decepar a cabeça de alguém. E no fundo do meu coração eu sinto que ele jamais faria isso. Jamais seria capaz de perdoá-lo se ele fizesse uma coisa dessas. Tenho medo de eles colocarem ele para se explodir". 
A transformação de Brian começou com uma decepção: o jovem queria ser jogador de futebol profissional, mas aos 17 anos foi dispensado do time onde treinava. Entrou em depressão. Foi nesse momento que os extremistas se aproximaram. Ele começou a frequentar uma mesquita no bairro, onde, segundo a imprensa belga, encontrou extremistas de vários países: Afeganistão, Paquistão, Bangladesh. Em menos de dois anos, tornou-se um deles. Em janeiro de 2013, sumiu.
"Esses rapazes o aconselharam a procurar força em Alá. Disseram que era para ele pedir ajuda ao Deus deles e ao profeta deles para superar a tristeza. Só que infelizmente foi a desgraça da vida do meu filho", diz a mãe, contando que antes Brian era muito católico. "Na maioria das fotos dele no Brasil ou na Bélgica, sempre está com um crucifixo. Ele tinha de várias cores. E sempre cantava uma música do Roberto Carlos, 'Jesus Cristo'".
Um dos grandes medos na Europa é que os jovens extremistas voltem para praticar atos terroristas nos países onde nasceram. E é exatamente isso que os belgas temem que Brian faça. Num vídeo atribuído a ele, o EI ameaça explodir o Atomium, um dos pontos turísticos mais visitados de Bruxelas. Rosana, no entanto, nega que a voz no vídeo - ele não aparece - seja do filho.
"Não é ele. Eles usaram meu filho como cobaia. Enquanto a polícia na Bélgica está ocupada com o Brian, eles estão fazendo as coisas deles em volta".
O prefeito da Antuérpia, Bart De Wever, discorda: "Há testemunhas que o implicam em atentados. A mãe dele quer acreditar que ele seja ingênuo, mas nós devemos considerá-lo um radical perigoso".
A última notícia que Rosana teve do filho foi que ele estava em Aleppo, na Síria. Ela conta que está disposta a uma ação desesperada para reencontrá-lo: "Eu vou para a Síria. A polícia federal falou que eles vão me matar, me estuprar, vão tirar a minha cabeça. Depois que eu encontrar meu filho, eles podem fazer isso".
“O pai e à mãe do Nicolas, seu filho fez uma operação explosiva com um caminhão no vilarejo inimigo de Homs. Que Deus o aceite como mártir”. Essa mensagem, escrita em frânces, foi enviada para Dominique Bons, de 60 anos, em dezembro passado. Apenas cinco meses antes, ela fora pega de surpresa ao ver o filho Nicolas, de 30 anos, em um vídeo na internet em que afirmava ser membro do grupo terrorista Estado Islâmico.
Conhecido como um garoto calmo que jogava bola como atacante, gostava de andar de bicicleta e cuidava bem da avó de 88 anos. Nicolas começou a estudar o Corão por conta própria. Converteu-se em 2010. A mãe, que vive em Toulose, no sul da França, é ateia e conversava esporadicamente com o filho sobre religião. “Ele me dizia que queria uma virgem. Eu respondia que isso estava difícil de encontrar hoje em dia”, diz Dominique, militar aposentada.
Com o tempo o rapaz parou de fumar maconha. Em março de 2013, ele e o meio-irmão Jean Daniel, de 22 anos, disseram aos pais que viajariam de férias para a Tailândia. Nunca mais voltaram. Jean Daniel morreu durante uma batalha perto da cidade de síria de Aleppo, quatro meses antes de Nicolas explodir-se em um atentado em Homs. “não vi nenhum prova de que meu filho morreu. Espero que tudo isso seja mentira”, diz a mãe.
Em três anos de guerra civil, mais de 2000 europeu se juntaram a grupos terroristas na Síria, incluindo a Frente Al Nusra e o Estado Islâmico, que quer criar um califado sem fronteiras regido pela lei islâmica. Nesse intento eles escravizam milhares de meninas, exterminam minorias religiosas, extorquem a população da cidade e degolam os que consideram infiéis . Na semana passada, um jihadista encapuzado e com sotaque britânico usou uma faca para decapitar Steven, o segundo jornalista americano morto assim em duas semanas.
O que leva adolescentes com 15 anos ou mais a tomar um trem ou um avião escondidos da família e levar uma vida  radical nos confins do Oriente Médio é um enigma que começa a ser desvendado.  Muitos são de boa família, que há muitas gerações vive na Europa e se beneficia das vantagens do Primeiro Mundo, como escolas e hospitais gratuitos. “Entre 500 perfis eu estudamos, vimos que eles são todos bons alunos. Os meninos costumam ser mais religiosos e nutrem com mais intensidade esse desejo de mudança. As meninas são mais novas e querem apoiar os homens, formando famílias. Em algum momento, todos acabam sendo usados pelos extremistas que os ajudam a se radicalizar e depois os atraem para uma armadilha no exterior.
Um dia, a francesa Sarah Ali Mehenni, de 17 anos, recebeu correspondência do Grupo Terrorista. A jovem é filha de um francês descendente de argelinos, mulçumano não praticante, e de Severine, que nunca aderiu ao islamismo. Há dois anos, a menina decidiu se converter. A radicalização culminou com a partida dela em março para a Síria, onde se casou com um tunisiano de 35 anos. O irmão mais velho, Jonathan, de 22 anos, explicou a Sarah que o Islã proíbe o casamento sem o consentimento dos pais, mas ela ficou contrariada. “ela mudou completamente a interpretação do texto e não escuta nada que dizemos”, conta Jonathan.

“Foi o lugar mais internacional a que já fui na minha vida. Vi americanos, chineses e coreanos. Escutei gente falando português, mas não consegui distinguir se eram brasileiros”, diz Foad, de 37 anos, que fez duas viagem neste ano para tentar resgatar a irmã Nora, que se uniu ao Grupo Terrorista. Na meia hora que teve ao lado de Nora na Síria, ele a viu magra e pálida. Os dois choraram copiosamente. Foad perguntou se ela queria voltar. Nora bateu com a cabeça na parede, repetindo “não posso, não posso”. O irmão acredita que ameaçaram matá-lo caso ela aceitasse ir embora. Nora fugiu de casa, em janeiro. Ela gostava de assistir ao Disney Channel e a seriados americanos, e saía com as amigas para o shopping. Hoje fala com a família por telefone em ligações esparsas. Nora não pode voltar, mas outros 200 que se arrependeram já conseguiram fazer esse caminho. O mais perigoso, contudo, é aqueles que retornaram e não se arrependeram e podem cometer atentados na Europa.