quinta-feira, 13 de junho de 2013

Brasil: econômico, social e religioso. Texto de João Vicente Pereira

Situação social. Até 1888 o Brasil tinha um regime escravocrata. O Brasil em sua fase embrionária,  era um terreiro de Portugal (usando a analise historiográfica de Caio Prado Junior, e, portanto a clássica) . Aqui Portugal começou a plantar cana de açúcar devido a enorme procura dos países europeus.  O Brasil  se contrapõe aos Estados Unidos da América, pois lá o objetivo dos colonos era fundar uma nação, um país. Mas, no Brasil, era diferente. O Brasil era a vaca de leite de Portugal, daqui saia toda matéria prima, para passar pelo processo de industrialização na Europa. Os índios não se submeteram ao trabalho forçado, pois culturalmente os índios nunca trabalharam por imposição, pelo contrário, caçavam e pescavam visando a coletividade. Não tinham noção da mais valia, isto é, lucro. Destarte, importaram africanos pra cá, para servir de mão de obra nos plantatios de cana de açúcar. E isso perdurou por mais de três séculos, até que, em 1888, a princesa Isabel ( é bom que se diga que à abolição da escravatura no Brasil não se deveu a um gesto longânimo de nossa Rainha, mas, deveu-se principalmente pelas pressões e insurreições que estavam ocorrendo dentro do país) aboliu a escravidão dos negros.

         No século XIX Dom João VI vem ao Brasil. Subsequentemente , muitas coisas mudaram na colônia. A Inglaterra, rainha dos mares, força o governo brasileiro visando a  abolição do tráfico de escravos. Em 1850 é proibido o tráfico de escravos. Em 1871, a lei do ventre livre declara livres os filhos de mães escravas no Brasil. Mas, só foi em 1888 oficialmente que o regime escravocrata é proibido.

         Diante deste fato, não tendo mais agora os fazendeiros mão de obra pra cuidar de suas plantações, recorrem aos imigrantes europeus ou asiáticos, que por sinal já estavam aculturados (obrigatoriamente) ao novo sistema mundial capitalista, que exigia não somente braços fortes, mas também capacidade técnica para o trabalho. Além do fato da abolição da escravidão, os escravos foram abandonados em detrimento dos europeus, pois eram inaptos de se engajarem no novo modelo internacional de produção. Paralelamente a substituição da mão-de-obra escrava por mão de obra assalariada ou arrendamento (no sudeste a mão de obra foi assalariada, já no sul do país arrendada),  se inicia um processo de industrialização. Isto decorre por causa da crise por que passam os produtos ancoras da economia exportadora brasileira: o café, e, particularmente na Amazônia, a borracha.

         No século XIX, período em que há uma expansão do capitalismo a nível mundial e crescimento da industrialização nas novas potências mundiais, traz como novidade para a região Amazônica a demanda por mais um produto extrativo: a borracha. O aquecimento da economia na região promove também uma expansão demográfica na região durante o período. Esse aumento da população ocorre também por fatores externos à região, por exemplo, a seca no nordeste de 1877 a 1880. “Em 1882, a produção de gomas amazônicos já influencia poderosamente no quadro brasileiro da exportação do império. Apenas o café e o açúcar se lhe mantinham á frente. O esplendor do ciclo da borracha estava começando” .
  
         “Entre 1906 e 1910, o valor da produção de café no Brasil (...) foi de 2,1 bilhões de cruzeiros. A borracha (...) rendeu nesse qüinqüênio 1,3 bilhões de cruzeiros. Entre 1853 e 1912, a união retirou da Amazônia saldo de 749 bilhões de cruzeiros (em moeda da época)”.

PRODUÇÃO DE BORRACHA NA REGIÃO AMAZÔNICA
PERÍODO
PRODUÇÃO EM TONELADAS
1827
31
1850
1.000
1870
8.000
1891 A 1900
21.400
1900 A 1910
34.500
1910 A 1920
32.800
1920 A 1930
20.200
        
Com a entrada da Ásia na concorrência do mercado da borracha, pois em 1910 a Ásia detinha 13% da economia mundial, mas em 1915 chega a 68%. Diante desse quadro econômico que começava a rastejar a região amazônica, sente, pois entre 1890 a 1900 houve uma migração liquida de mais 110 mil pessoas vindas principalmente do Ceará, a partir de então há um retraimento de extração de borracha. Portanto, de agora em diante, ocorre todo um processo migratório em direção aos seus Estados. E, é nesse momento que os missionários suecos chegam ao Pará.

2.2  A SITUAÇÃO SOCIAL NO BRASIL e no Pará..

         Em 1888 o fim da escravidão não representou para o povo trabalhador na extração da borracha libertação. À semelhança dos africanos, esses trabalhadores foram objetos de exploração. A riqueza que chegou à Amazônia não chegou até os seringueiros, responsáveis diretos por sua produção. Esse período pra Manaus foi assazmente próspero, pois, as grandes construções como o Teatro Municipal e outras construções importantes, procederam por causa da exuberância material da extração da borracha. Outrossim, a situação no nordeste era de crise profunda por conta das secas de 1877 a 1880. O maior fluxo de migrantes em direção às áreas de borracha do Amazonas veio ocorrer nas décadas seguintes, especialmente durante os períodos de 1890-1900.

         O sistema de aviamento consistia em um adiantamento oferecido pelos intermediários para que o migrante pudesse ter condições de produzir, sendo o pagamento efetuado com a produção da borracha. Mas, os preços dos produtos tanto os adiantados como o da borracha eram fixados pelos intermediários, o que resultava num endividamento cada vez maior do seringueiro. A crise da borracha provoca falências nas empresas aviadoras e nos governos locais, além de grandes prejuízos aos bancos. Entretanto, a população vai sofrer na pele as conseqüências desse período crítico.

         Em tempos de tamanha crise o apelo religioso se mostra como uma solução para os problemas enfrentados no dia-a-dia. A doença, a fome, a exploração trazem a perspectiva da morte para próximo dos indivíduos, e uma doutrina que traz resposta para a vida com grande ênfase para a vida eterna, terá enorme sucesso. A experiência do batismo com o Espírito Santo, momento de êxtase, algo indizível, inexplicável racionalmente falando, levam os homens, apesar da falta de esperança e apesar da fome, miséria, doença, a um estado de interioridade inefável, que sobrepõe a tudo.

2.3 A SITUAÇÃO RELIGIOSA.

         A relação Igreja-Estado, desde o descobrimento do Brasil esta assentada no regime do Padroado. A Instituição do Padroado é uma concessão oferecida pelos papas aos soberanos portugueses que oferecia a estes o direito de administração dos negócios eclesiásticos nas terras descobertas.

         Essa simbiose (união)  de Igreja-Estado se encontra desde o momento em que o Imperador Romano Constantino oficializou o cristianismo como a religião do Império. Quando o Império Romano caiu no século V, faltou autoridade pra se impor aos bárbaros e foi nessa brecha que os Bispos começaram a se ascender como líderes espirituais e políticos. Doravantemente esses dois poderes – temporal e o espiritual -, lutam constantemente visando o poder absoluto.

         A época era para o comércio e portanto a Igreja estava subordinada ao Estado que tinha intenções mercantilistas pra novas terras invadidas pelos europeus . Savanarola expressou-se certa vez, que no começo os homens eram de ouro e os copos de madeira, mas, em sua época (XV) os homens eram de madeira e os copos de ouro. Destarte, as virtudes já não surtiam efeitos nas mentes dos homens, portanto, o que importava era o lucro. A aliança entre a Igreja e o Estado  resultou em uma associação poderosíssima, capaz de uma empresa de imposição cultural e política que foi a conquista da América. A igreja defendeu o direito divino dos reis, enquanto a coroa respaldou a autoridade universal da Igreja Católica. Na prática o Rei, agraciado com o poder do padroado, se constituía no chefe espiritual da Igreja em todas as possessões do reino, o que lhe garantia  ingerências total dentro dos negócios eclesiásticos das colônias.

         A Igreja, portanto, ficava a mercê do Estado. Por exemplo: nenhum clérigo podia partir de Portugal para o Brasil sem autorização e sem prestar juramento ao rei. Os bispos não podiam corresponder-se diretamente com Roma. Havia problemas para a admissão de noviços  nos conventos, além de ser proibido a criação de novos conventos. O número e a localização dos missionários era decidido de acordo com a necessidade de expansão colonial e não necessidade missionária.

         Durante esse tempo a reforma do século XVI de Lutero e Calvino ainda não fizera efeito no Brasil, não obstante às varias tentativas -  principalmente dos huguenotes franceses calvinistas no século XVI, que na verdade foram derrotados  por causa de controvérsias teológicas e autoritarismo  dentro do próprio grupo -. Os reformadores com a doutrina da predestinação deram incentivos ao capitalismo, levando essa teologia, fique claro nunca ensinada por João Calvino na ótica econômica, mas sim espiritual, a vertebralização do liberalismo. E essas novas idéias liberais já povoavam a cabeça da elite brasileira. De tal modo que na “ constituição de 1824, embora dos 90 constituintes, 19 fossem padres e a religião católica reconhecida como a religião oficial do Estado (...) Reconhecia a Constituição do Brasil como nação cristã em todas as profissões cristãs. Estabelecia, também que, respeitada a religião oficial, ninguém seria perseguido por questão de religião” .

 “Nesse período já está instalado um clima de tensão acentuado. Duas correntes vão aprofundar essas diferenças passo a passo. De um lado os regalistas que defendem o poder absoluto do Rei, e, do outro, os utramontanos que defendem a autoridade suprema do papa. Tem inicio um processo de volta a Roma por parte da Igreja, os bispos se reúnem e se afirmam estreitamente ligados ao papa. Esse processo de volta a Roma – romanização – tem um desenvolvimento cada vez mais radical chegando ao clímax no Concilio Vaticano I (1969-1870) onde foi decretada a infabilidade papal”.


         A partir da Independência do Brasil e com a proliferação de idéias liberais, e o avanço da maçonaria, das quais o próprio Imperador D. Pedro I era simpatizante, a Igreja vai perdendo, pouco a pouco, seus privilégios, e vai ganhando corpo uma idéia de cisão.